Gostaria de vos contar a história de como conheci a Micas, como a escolhi, como sou feliz com ela e como penso viver com ela para sempre.
Num belo dia de Agosto, tinha acabado de chegar a Portimão de uma camping-digressão por Portugal com a Sofia, quando a minha avó telefona para ir visitá-la e ver os gatinhos que a sua gata tinha parido (argumento fortíssimo). Quando lá cheguei deparei-me com três coisinhas muito pequeninas dentro de uma gaveta de um armário, num armazém de produtos agrícolas, fiquei louca pois dois deles eram tartarugas (tricolores – pelagem que só ocorre nas fêmeas).
Voltei para Portimão felicíssima. Mas, dois dias depois, volto a receber um telefonema de Aljezur com uma péssima notícia, a gata tinha morrido e os gatinhos só tinham duas semanas de vida, não conseguiam alimentar-se sozinhos. Parece que senti uma cãibra na região abdominal que não me abandonou todo o dia, e agora?
Não aguentei, fui buscá-los para minha casa (T1). Começaram a surgir as dúvidas, não lhes posso dar leite de vaca e aquele leite da whiskas também não dá, tinha que arranjar um leite com a composição ideal para gatinhos bebés. Fui a um veterinário, comprei leite em pó específico para eles, tetinas e biberões. Fui, então, informada que tinha que lhes dar biberão de 4 em 4 horas. Fiquei em pânico, ai a minha rica vida de férias, as minhas noites iam passar a ser uma animação.
Lá comecei a tratar dos bichos, dei-lhes nomes: Gauss, Micas e Psipsina e percebi logo que cada uma daquelas pequenas criaturas tinha um feitio diferente, alturas houve em que mesmo às escuras conseguia distingui-los, só pelo seu comportamento.
Lembro-me que nesse ano saia bastante à noite, os biberões de 4 em 4 horas vieram alterar todo o meu ritmo, tinha que fazer coincidir uma mamada com a hora de sair e depois, estava no bar com amigos e lá tinha que vir a correr dar mais um biberão, já toda a gente me gozava e perguntava a que horas é que tinha que ir dar biberão aos gatos. Outras vezes chegava a casa e ficava a fazer tempo até à hora do biberão para não ir dormir e acordar dali a pouco.
Comecei a trabalhar ainda em Agosto e lá tinha que sair da escola para tratar das minhas crias, marcava reuniões par horas que não fizessem transtorno.
Foram crescendo, quando começaram a fazer xixi na areia, a fazer ronrom ou a comer comida sólida era como se fosse uma grande conquista, sentia-me a melhor mãe do mundo
Chegou então a idade de dois meses, já eram independentes, podia arranjar-lhes dono, foi uma tragédia. O Gauss teve logo pretendente, foi para Abrantes, mas quanto às meninas, o caso foi complicado pois como decidi ficar com uma, tive que escolher. Ou a Psipsina toda “paz e amor”, “tá-se bem”, “relax”, “numa boa” ou a Micas super nervosa, medrosa e ansiosa. Foi muito difícil, tive que pôr o coração de lado e usar a razão, fiquei com a Micas. A Psipsina foi para casa da minha avó onde ia ter uma vida feliz, no campo.
Hoje, ao fim de 5 anos, a Psipsina morreu, como a mãe, na estrada mas deixou 4 lindos filhotes. O Gauss está feliz em Abrantes e a Micas está comigo, adoro-a, tanto como ela a mim. Quem já veio cá a casa sabe o que estou a dizer!
O que mais me impressionou nesta experiência foi que aquelas criaturas tão pequeninas já trouxessem toda aquele maravilhoso instinto felino com elas. Não foi por eu ter passado horas a mexer na areia com as patinhas deles ou a ronronar junto às suas barriguinhas que eles começaram a fazem xixi na areia ou ronronar aos meus ouvidos ou no meu colo, estava na sua natureza e isso para mim é que é o milagre da natureza.
Nota: Fotos tiradas por Rui Vicente da Cruz e a menina de blusinha às riscas é a Sofia que me dava uma mãozinha.